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Série de Netflix relembra caso de canibalismo de serial killer que comeu cérebro de turista no Maranhão

Fonte: Enquanto isso no Maranhão
Data: 17/10/2022 11:39
Atualizado em 22/10/2024 00:30

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Diante de uma juíza e um promotor, um homem de cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo e um cacoete no olho esquerdo disse ter certeza que bebeu o sangue e comeu o cérebro de uma turista alemã que ele assassinou na região dos Lençóis Maranhenses.

Era manhã de 5 de maio de 2005 em uma sala de audiência do Fórum de Barreirinhas, no litoral do Maranhão. O homem que fazia a confissão chocante era o artesão goiano José Vicente Matias, o Corumbá, então com 38 anos de idade.

Nos dias seguintes, o rosto dele foi estampado em jornais e na TV. O serial killer confessou ter matado seis mulheres entre 1999 e 2005 em rituais macabros, que envolviam muita violência, canibalismo e banhos de sangue, a mando de um ser sobrenatural, que chegou a ser denominado de diabo em um dos depoimentos para a polícia.

Veja as vítimas de Corumbá no Maranhão:

Metade das vítimas eram turistas de fora do país e a maioria dos assassinatos foram cometidos em cidades turísticas, com paisagens paradisíacas. As mulheres foram mortas com golpes na cabeça e os corpos foram deixados em locais próximos de água, como córregos e praias.

Ele responde por crimes como vilipêndio ao cadáver, canibalismo, estupro e homicídio triplamente qualificado.

Casos como o de Corumbá vêm à lembrança em um momento que o nome do assassino em série americano Jeffrey Dahmer está em alta. Ele matou 17 homens e um garoto nos anos 1980 e 1990 e inspira a série de ficção policial “Dahmer: Um Canibal Americano”, do Netflix.

Visões sobrenaturais

Em depoimento para a Polícia Civil do Maranhão em abril de 2005, Corumbá disse que cometeu os assassinatos a mando de um homem com aparência estranha, com a pele “parecendo escama de peixe”. Esse ser teria se identificado como o próprio Diabo.

No depoimento, Corumbá relatou que o ser o orientou a matar sete mulheres, que seriam indicadas, devendo seguir o seguinte ritual: atrair vítimas a locais ermos, sugar e passar o sangue delas no seu corpo, rachar o crânio delas, morder seus corpos e até mesmo comer a carne delas.

Já em depoimento para a juíza, em maio do mesmo ano, Corumbá descreveu o ser sobrenatural como um senhor de idade, com barba branca, vestido com um chapéu e orelhas pontiagudas. No laudo psicológico, o ser sobrenatural foi descrito como “um espírito”. A sétima vítima seria uma mulher ruiva, próximo da Guiana Francesa, segundo Corumbá. Mas ele não chegou a concretizar esse crime, pois foi preso antes.

Desprezo por mulheres

No laudo psiquiátrico, Corumbá é apontado como uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial, que é o distúrbio caracterizado pelo desprezo por outras pessoas. O transtorno seria potencializado com o uso de drogas alucinógenas, como chá de cogumelo.

Talvez isso ajude a explicar as diferentes versões que Corumbá deu para os assassinatos. Além da visão sobrenatural, ele também deu outra motivação para os crimes, relacionada à sexualidade.

“Perguntado ao interrogado qual sua motivação para cometer esses crimes, respondeu que não sabe explicar, mas acrescentou que tem impotência sexual, que tem apenas um testículo. Talvez, por isso, as mulheres ficam sacaneando com ele”, disse trecho de um dos depoimentos de Corumbá, em março de 2005.

Ao comentar o assassinato de Marianne Kern, de 49 anos, a mesma turista alemã que ele disse ter comido o cérebro, Corumbá chegou a culpá-la pelo crime, evidenciando suas roupas e comportamento.

Diante da juíza, ele disse que “acha que o fato da vítima andar de saia curta e se expor para vários homens é uma forma de zombar do interrogado”.

Artesão e andarilho

José Vicente Matias teve infância difícil. Nascido em Firminópolis, no oeste goiano, ele vivenciou logo cedo a separação dos pais. Sua frequência escolar foi irregular desde os primeiros anos, com notas baixas e repetência.

Ainda jovem, ele saiu para o mundo e foi viver por conta própria. O homem de jeito calmo e frio, segundo os policiais, vivia viajando pelo Brasil, misturado com comunidades hippies e vendendo artesanatos pendurados em um tecido. Também se passava por tatuador. Ele se aproximava das vítimas dessa maneira e cometia os crimes quando estava isolado com elas. Isso teria dificultado a investigação.

Um dos casos que mais causou comoção na época foi o da russa-israelense Katryn Rakitov, 29 anos, assassinada em Pirenópolis (GO), cidade turística histórica conhecida em todo o país também por suas cachoeiras. Ela ficou durante um bom tempo desaparecida e a família lutava para encontrá-la.

O cadáver da jovem foi encontrado posteriormente sepultado em uma cova rasa em uma gruta próxima a uma cachoeira.

Corumbá também se aproveitava das festas de rua, quando as cidades estavam lotadas de turistas. Foi esse o caso da primeira vítima, Natália Canhas, de 16 anos, em Três Marias (MG), que sumiu durante um carnaval fora de época. Ela foi encontrada decapitada em uma grota, segundo o Ministério Público.

Em relatório de fevereiro de 2000, antes de acontecer os outros homicídios, a polícia local classificou o caso com “um grau de dificuldade muito grande, devido ao grande número de turistas que encontravam-se em nossa cidade”.

Condenado e preso

Corumbá foi preso na noite de 29 de março de 2005 em Bragança, no Pará, após uma denúncia anônima. Ele foi levado inicialmente para o Maranhão, onde tinha matado suas duas últimas vítimas, naquele mesmo mês.

A primeira condenação contra Corumbá foi de 23 anos de prisão pelo homicídio de Lidiayne Vieira, de 16 anos, em Goiânia, que foi decapitada e esquartejada após dois dias sendo torturada em suposto ritual. À época, a jovem se aproximou dele atraída pela promessa de artesanatos e tatuagens.

A soma total das condenações noticiadas na imprensa chega a 69 anos. Pelo menos dois casos ainda tramitam no Judiciário do Maranhão e Minas Gerais.

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